quinta-feira, 24 de junho de 2010

Compreensão antiga x Compreensão moderna do tempo

O vocábulo "tempo" constitui-se como um dado um tanto complexo de ser definido e conceituado. Justamente por esse motivo, nem sempre encerrou em si as mesmas atribuições. Tais contrastes tocantes às diferentes formas de enxergar e pensar evidenciam-se, a rigor, nos tempos antigo e moderno; tempos esses em que a abordagem quanto a este único assunto faz-se de modo tão multifacetado.

No mundo antigo - tratando-se principalmente dos gregos - só se pensava tempo como sendo algo concreto e, para tal, constumava-se atribuir-lhe fatos e acontecimentos relevantes à época, tais quais: períodos de colheitas, de gueras, questões climáticas, e outros. Os gregos, ainda, associavam tempo à questão de ciclos que a natureza apresenta de nascimento, desenvolvimento e fim. E, com propriedade, pensavam o homem e a sociedade sob a lei de ascensão, degeneração. Era, portanto, para um grego impensada a ideia de agrupamento e acréscimo de tempo ou quaisquer outros fenômenos da vida. E essa distorção no pensar é descontruída por uma evidente conquista moderna: a noção de progresso.

Foi na modernidade que se passou a apontar e entender a História como conjunto das ações da humanidade e a perceber uma gradativa evolução, um notável progresso. Apontamento que exige uma compreensão não mais concreta de tempo mas abstrata, por excelência. Partindo dessa inferência seguem-se as demais demarcações relacionadas a tempo, quais: entendê-lo como algo passível de agrupamento, bem diferente de ciclos ou linhas constantes - como no caso da filosofia escolástica - mas, sobretudo, uma reta crescente, ascendente, progressiva, em última análise; entendê-lo como um fluxo infinito, uma lacuna, um intervalo vago a ser preenchido mediante realizações, seres e fatos. E, tanto é evidente e destacado esse ideário moderno de tempo e progresso que se torna possível e, mais, saudável e comum, a façanha de olhar para o passado, avaliá-lo, estabelecer comparações com o presente, realizar intuições com relação ao futuro e tantos outros feitos permitidos por toda essa abstração que ele comporta em sua essência. 
SOUZA, Daniele.
*Artigo apresentado em prova do domínio Filosofia e História.
(Conceituação: 10)

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Como diria Caetano: "Tempo, tempo, tempo, tempo..."

O tempo por ser, em sentido próprio, um dado conceitual um tanto quanto complexo nem sempre possuiu a mesma identidade de definições. A rigor, ele encerrava em si nos tempos antigos modos de compreensão que em todos os aspectos contrastam-se com o modo moderno de compreendê-lo.

Através da ótica antiga e especialmente grega, não a palavra mas o fenômeno tempo era concebido, entendido, como algo de caráter concreto necessariamente preenchido por um conteúdo relevante para os povos que ele - o tempo - viviam e sobre o qual pensavam, como: o tempo da colheita, o tempo da guerra - para citar apenas alguns. Tal pensamento, se pensado mediante uma forma gráfica, teria "feições" cíclicas. E esse tempo cíclico estaria baseado em uma analogia com o ciclo que rege a natureza, de nascimento, desenvolvimento e fim. Assim como ocorre na natureza também ocorreria aos homens e ao Estado, segundo os antigos: surgimento, apogeu, declínio. (A saber, inexistindo em tal processamento de ideias a de sobreposição de sociedades e gerações diferentes.)

Esse modo de entender o tempo desconstroi um conceito fundamental alcançado pela modernidade: o progresso. A partir da idade moderna, passa-se a entender a História como um conjunto de ações da humanidade que apresenta gradativamente uma evolução, um progresso. Mas para se chegar a tal inferência fez-se antes necessário entender tempo como algo abstrato e passível de acréscimo. (E esta para os gregos, os antigos, era uma hipótese inimaginável. Torna-se impossível a ideia de acrescentar, de agrupar, quando se pensa ser preciso destruir, pôr fim, para iniciar ou criar algo. A noção de progresso é, portanto, incompatível com o ideário cíclico de tempo.)

Progresso pressupõe constante acréscimo, constante melhora. E tal conclusão é alcançada na modernidade, que compreendia tempo como um instante, um fluxo infinito; uma lacuna a ser preenchida com realizações mediante o "desenrolar" da História. Essa ideia possibilita acumulação de coisas, seres e feitos, permitindo comparações, autoavaliações e suposições mediante a consciência de progresso.
SOUZA, Daniele.
*Esboço do artigo Compreensão antiga x Compreensão moderna do tempo.