O tempo por ser, em sentido próprio, um dado conceitual um tanto quanto complexo nem sempre possuiu a mesma identidade de definições. A rigor, ele encerrava em si nos tempos antigos modos de compreensão que em todos os aspectos contrastam-se com o modo moderno de compreendê-lo.
Através da ótica antiga e especialmente grega, não a palavra mas o fenômeno tempo era concebido, entendido, como algo de caráter concreto necessariamente preenchido por um conteúdo relevante para os povos que ele - o tempo - viviam e sobre o qual pensavam, como: o tempo da colheita, o tempo da guerra - para citar apenas alguns. Tal pensamento, se pensado mediante uma forma gráfica, teria "feições" cíclicas. E esse tempo cíclico estaria baseado em uma analogia com o ciclo que rege a natureza, de nascimento, desenvolvimento e fim. Assim como ocorre na natureza também ocorreria aos homens e ao Estado, segundo os antigos: surgimento, apogeu, declínio. (A saber, inexistindo em tal processamento de ideias a de sobreposição de sociedades e gerações diferentes.)
Esse modo de entender o tempo desconstroi um conceito fundamental alcançado pela modernidade: o progresso. A partir da idade moderna, passa-se a entender a História como um conjunto de ações da humanidade que apresenta gradativamente uma evolução, um progresso. Mas para se chegar a tal inferência fez-se antes necessário entender tempo como algo abstrato e passível de acréscimo. (E esta para os gregos, os antigos, era uma hipótese inimaginável. Torna-se impossível a ideia de acrescentar, de agrupar, quando se pensa ser preciso destruir, pôr fim, para iniciar ou criar algo. A noção de progresso é, portanto, incompatível com o ideário cíclico de tempo.)
Progresso pressupõe constante acréscimo, constante melhora. E tal conclusão é alcançada na modernidade, que compreendia tempo como um instante, um fluxo infinito; uma lacuna a ser preenchida com realizações mediante o "desenrolar" da História. Essa ideia possibilita acumulação de coisas, seres e feitos, permitindo comparações, autoavaliações e suposições mediante a consciência de progresso.
SOUZA, Daniele.
*Esboço do artigo Compreensão antiga x Compreensão moderna do tempo.
*Esboço do artigo Compreensão antiga x Compreensão moderna do tempo.
