quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Mensagem especial

Estrela, amiga que anuncia,
Se jazes mesmo no céu de meu querido
Levai a ele notícias de meus sentimentos
Diz-lhe, em favor, que dele preciso
E não deixe de lhe fazer um pedido:
Que pare já de ser mesquinho
E comunique, então, que seja um dedinho de prosa
Através desse firmamento, que por igual nos encobre
E reveste de esperanças tantos dos meus pensamentos

Ai! que desassossego traz o desatento ao coração
Dedique-lhe, pois, teus sóbrios conselhos
Ensine-o, com tua voz luminosa, segredos
Confie-lhe, em enigmas, toda a verdade
Garanta-me que, enfim, ele a conhecerá

Estrela-guia que me conduz a mui abstratos caminhos -
Que sozinha não consigo; que, limitada, desconheço -,
Oferte-lhe as certezas de que ele necessita
Para entregar-se a mim sem medo
Tragas-me, como conforto, cada vestígio seu de reação

Esperançosa estou de que ele há um dia de me confiar
Que o sentimento que tenho em mim
Tem mais que a tua luz para acompanhar
E que será, por fim, mais nosso
E não unicamente meu
SOUZA, Daniele.

domingo, 15 de novembro de 2009

Desabafo

Essa tinta não me pertence. E esse papel, tão reduzido! Mas se há tanto para te confessar, por que cargas d'água não consigo? Tenho muito para falar; guardo tanto. Mas vou tentar.

Montpellier, 09 de fevereiro de 1959.

Meu caro,

Tenho de dizer que cansei de te esperar. Esperar que tu cumpras aquilo que, quando menos pensava ou pretendia, prometias. Estafei de aguardar essa vontade - primeiro tua - amadurecer; esse olhar me perfurar, maltratar, fazer doer; esses teus desejos e pedidos de estar perto tornarem-se verdade.

Quanto mais me chamas mais longe fazes questão de te apresentar. O que queres, afinal? Confundir-me? importunar-me? - ou pior - enamorar-me a ponto de me aprisionar? Desculpe, querido, mas não há graça em tal castigo que queres me condicionar.

"Tu és responsável por aquilo que cativas", já dizia o poeta. Concordo; ratifico. E se há um culpado desse amor, tu és, oh malfeitor.

Já que não tiveste zelo comigo, todo cuidado merecido, de hoje em diante, será mais prazeroso dedicar-me a tornar este sentimento noutro que cultivá-lo como o fiz até aqui. Tirarei, pois, um peso de mim e me perdoarei ao isentar-me da responsabilidade de te ver sorrir, de te fazer feliz, de viver em função de ti.

Passar bem,
Isabelle


SOUZA, Daniele.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Luar do céu!


Que outra forma há de se explorar a vida senão vivendo-a? Desdobrando esquinas e avistando o repontamento de estradas, vai-se redescobrindo o velho, apreciando o novo e conhecendo o que não se espera. Ontem mesmo, como que por acaso, ao margear a silhueta de uma estrada, calaram-se as vozes, apagaram-se as luzes, desistiram de o ser as cores, sobrando no cenário eu, um sombrio oceano antigravidade pintado por um confuso azul - dado por certa luminosidade recatada - e, por fim, um espetáculo natural mergulhado em pompa e esplendor: o luar.

A lua. Isso mesmo foi o que contemplei. Apenas a lua.

Num impulso egocêntrico, pensei haver ela surgido propositadamente naquela cena só para mim. Ninguém mais parecia ser capaz de observar - digo, parecia nem haver alguém para fazê-lo - que a lua não luarava igual, mas assumira caráter abstrato e já não comportava as interpretações meramente científicas a seu respeito; conquistara uma conotação infinda, com exuberância tal e soberania tão... de difícil alcance fidedigno.

Ao voltar ao ambiente e aos que me faziam companhia, ousei tentativas frustradas de relatar o que aquele corpo celeste, ainda que inerte, comunicava-me. Não sabendo fazer-me compreendida, recorri a um diálogo interno que me serviu de canalizador das multi impressões acrescidas a mim naquele breve momento. "Como um artigo tão comum a minha visão pode, num momento sem mais, despertar-me inspiração, fazer-me olhá-lo com olhos de ver e por ele me encantar?"

Não que apenas no fatídico momento ela - a lua - tenha tornado-se especial. Mas minha visão, esta, sim, modificou-se. Sob minha ótica limitada a apenas uma dimensão do luar, pude enxergar profundidade - um conteúdo antes não consultado - suficiente para alimentar o interior de paz e trazer mais respostas que perguntas, por longa data.

Lua... com traços tão sutis e modesta em cores, exibe com encanto seu temperado brilho. E em comparação a grandeza que é o sol, vejo-a com ainda mais garbo. Pois sua majestade é legitimada justo no momento em que todas as atenções tendem a voltar-se para ela, já que, na noite, constitui a mais notória e inteligente fonte de luz. (Uma fonte egoísta, fundida em medidas exatas: nem em exagero, para não abrir margem a outras belezas; nem tão cativa, para que seja melhor apreciada.) Seu brilho é comedido, não é atrevido nem tirano. Respeita o desejo do ser de ser ou não por ele penetrado. Traz equilíbrio, dispensa elogios - haja visto que ela por si em beleza se basta. É um bem sempre presente e disposto. Fazendo-se preciso, para desfrutá-lo, querê-lo, contemplá-lo, e, pois, apreciá-lo tal qual merece ser venerado.
SOUZA, Daniele.

Não cabes em mim

Mui limitado é meu pensamento e ainda mais o era, até que O conheci. Desde então, dediquei-Te meus desafios e em cada um Tu pudeste me suprir.

Tantos eram os pedidos, e quantas as inseguranças. Não obstante, ainda maiores apresentavam-se Tuas provisões, as quais cediam-me aquilo cujo minha mente não alcançava como viável. Desse modo, enchias-me de grande emoção.

Aos bocados, conheci parte de Tua glória. E este poucochinho foi o bastante para me convencer de Tua infinitude. Oh, como confio em Ti! Tanto que como prova dedico-Te minha vida, que nada vale se não jazer em Ti.

Tu és comigo tão paciente e em tudo me susténs. E mesmo sendo eu um ser de todo abominável, desprezas minha iniquidade e despes-me de meus pecados. Tornando-me, então, mais digna de habitar próximo a Ti.

Agradecida estou e sou visto que habitas em mim. E hoje, pois, chamo-te Pai pelo direito que com o dom gratuito concedeste-me de ser adotada por Tua graça, abrangida pela Tua misericórdia e vítima de um amor tão grande, dotado de todas as propriedades que tal expressão possa compreender.

Aguardo em ansiedade o momento em que inaugurarás o dia ininterrupto em que Te verei, finalmente, face a face.
SOUZA, Daniele.

.

Bem-vinda, bem-vista liberdade

Conquistei-te, oh liberdade. Arrematei esse direito todo preso em ti de murmurar ao relento, de gritar para dentro; deitar, sonhar, acordar e por aqui te encontrar.

Liberdade, liberdade, afugentaste meu medo de te querer e te exibiste toda linda, toda prosa - sinuosa para mim. Provei-te; agradei-me. E já te quero sempre aqui.

Liberdade, acomode-se. Sinta-se à vontade. Desenhe nessa viola aquela nossa trilha sonora. E não te excedas. Antes, sejamos moderados. Não te afobes, que a lida está em princípio. Há muito ainda a aprender sobre a arte de ser... livre!
SOUZA, Daniele.


Janela d'alma

Por ti tateio os relevos da vida
Desbravo contornos, desgostos, anseios
Descubro sabores, desperto desejos
Encontro coragem e sigo a lida
Se te aprendo usar, apaixono-me ainda
Pelo que há no entorno semelhante a magia
Adornado de modo a conferir alegria
Conferindo vontade de te apresentar para a vida
SOUZA, Daniele.