quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Luar do céu!


Que outra forma há de se explorar a vida senão vivendo-a? Desdobrando esquinas e avistando o repontamento de estradas, vai-se redescobrindo o velho, apreciando o novo e conhecendo o que não se espera. Ontem mesmo, como que por acaso, ao margear a silhueta de uma estrada, calaram-se as vozes, apagaram-se as luzes, desistiram de o ser as cores, sobrando no cenário eu, um sombrio oceano antigravidade pintado por um confuso azul - dado por certa luminosidade recatada - e, por fim, um espetáculo natural mergulhado em pompa e esplendor: o luar.

A lua. Isso mesmo foi o que contemplei. Apenas a lua.

Num impulso egocêntrico, pensei haver ela surgido propositadamente naquela cena só para mim. Ninguém mais parecia ser capaz de observar - digo, parecia nem haver alguém para fazê-lo - que a lua não luarava igual, mas assumira caráter abstrato e já não comportava as interpretações meramente científicas a seu respeito; conquistara uma conotação infinda, com exuberância tal e soberania tão... de difícil alcance fidedigno.

Ao voltar ao ambiente e aos que me faziam companhia, ousei tentativas frustradas de relatar o que aquele corpo celeste, ainda que inerte, comunicava-me. Não sabendo fazer-me compreendida, recorri a um diálogo interno que me serviu de canalizador das multi impressões acrescidas a mim naquele breve momento. "Como um artigo tão comum a minha visão pode, num momento sem mais, despertar-me inspiração, fazer-me olhá-lo com olhos de ver e por ele me encantar?"

Não que apenas no fatídico momento ela - a lua - tenha tornado-se especial. Mas minha visão, esta, sim, modificou-se. Sob minha ótica limitada a apenas uma dimensão do luar, pude enxergar profundidade - um conteúdo antes não consultado - suficiente para alimentar o interior de paz e trazer mais respostas que perguntas, por longa data.

Lua... com traços tão sutis e modesta em cores, exibe com encanto seu temperado brilho. E em comparação a grandeza que é o sol, vejo-a com ainda mais garbo. Pois sua majestade é legitimada justo no momento em que todas as atenções tendem a voltar-se para ela, já que, na noite, constitui a mais notória e inteligente fonte de luz. (Uma fonte egoísta, fundida em medidas exatas: nem em exagero, para não abrir margem a outras belezas; nem tão cativa, para que seja melhor apreciada.) Seu brilho é comedido, não é atrevido nem tirano. Respeita o desejo do ser de ser ou não por ele penetrado. Traz equilíbrio, dispensa elogios - haja visto que ela por si em beleza se basta. É um bem sempre presente e disposto. Fazendo-se preciso, para desfrutá-lo, querê-lo, contemplá-lo, e, pois, apreciá-lo tal qual merece ser venerado.
SOUZA, Daniele.