quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Um bastardo eu

Sou base
E, embora não pareça,
Nem tão firme
E quando num vacilo,
De tão frágil
Se comigo estou,
Derreto-me
Ao fechar dos olhos da cidade

E de minha sombra
Escondo-me;
E dos murmúrios da brisa
Afasto-me;
E, em soluços, na vergonha fico

Como que para livrar-me
Da ameaça que é
Ter em mim uma fragilidade
Que remonte
A insuficiência de ser base
Provando o que não sou capaz:
Ser forte

SOUZA, Daniele.

sábado, 22 de agosto de 2009

Casulo

Quero fugir,
Escoder-me dentro em mim
Isolar-me da realidade
Que insiste em me perseguir
Não te tenho mais aqui,
Perto de mim,
Pronto a me fazer feliz
Não te vejo mais,
Não te ouço mais,
Não te vivo mais
Mas que falta que faz
SOUZA, Daniele.

Regras, regras...

Ter é desprezível; estar é efêmero; ser é sublime, pleno, magistral. O mundo está saturado de regras. Seja, pois, tu exceção.
SOUZA, Daniele.

sábado, 15 de agosto de 2009

Insuportável eu

Um homem não sobrevive só. Não pela solidão em si. Mas por não suportar, por muito mais de um instante, conviver com o terrível que há dentro de seu próprio eu.
SOUZA, Daniele.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Covardia

Quão vulnerável sou. A solidão era o que mais buscava; o que a mim fascinava; descanso e repouso de mais inspiração. (Sim, isso eu pensava.)

Eis que a ela estou entregue. E já há mudanças no meu corpo, alma e... mente. Coração arredio e afugentado; movimentos repetitivos, como que insanos; e uma falta de tudo; um... um excesso do nada.

Depois de um tempo, o que se quer não é companhia, mas serrar os olhos e mergulhar num abismo - que agora minha mente associa ao que chamam de sono - tão profundo e intenso, a ponto de não mais ser possível repontar.
SOUZA, Daniele.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Latência evidente

Tenho saudade de minha voz, presa dentro em mim. Tão longe que não posso provar. Tão minha que não há como desmentir. Atormenta-me, ecoando em meu ser. Atrofia, ainda, um de meus sentidos. Haja visto que acovardou-se e de minha garganta já não quer se libertar.

Um grito... isto é tudo de que preciso!
SOUZA, Daniele.

sábado, 8 de agosto de 2009

Um lugar chamado aqui

Faz um tempo que acordei e descobri
Que o mundo não tem cor
E está mesmo por um triz

Bate saudade daquele tempo de criança
Eu respirava uma mentira,
Engolia uma desculpa que bastava, que valia

Passado um tempo, o real foi ostentado
Sangue, pois, foi exalado
Com sabor de impunidade

Descobri uma nauseante verdade
Que o todo o é em fragmentos
E já inspira piedade


SOUZA, Daniele.

Verdade de um sonho pesaroso

Hoje acordei com um enorme vazio
Hoje acordei com vontade de poder...
Hoje acordei com vontade de ser filha
Hoje acordei querendo pai ter

Hoje sonhei que estava contigo
Hoje sonhei que de ti precisei
Hoje sonhei que estavas por perto
Hoje sonhei que envolvido o abraçei

Depois o senhor sumiu de mim
Depois um animal feroz me veio
Depois me bateu aquele medo
Depois gritei: Meu pai, aqui!

Daí esperei tua prontidão
Daí o senhor me demorou
Daí esperei mais um bocado
Daí o encanto se findou

Deu vontade de desviver
Deu vontade de libertar um grito
Deu vontade de derreter em lágrimas
Deu vontade de saber por quê

E o que fiz foi tentar não fazer alarde
E o que fiz foi calar, e gritar grafias
E o que fiz foi chorar, por dentro, uma lágrima seca
E o que fiz foi ter a dúvida: se sonho ou verdade

A verdade...
É que hoje acordei
Pensei na mente que sonhei o que vivi
Depois, lembrei das verdades que ali senti
Daí deu vontade de desabafar com o papel
E o que fiz foi confidenciar a ele
Que queria voltar pro sonho
Ou acordar logo da verdade

Avisei que tinha pressa
Que eu guardava um tal abraço
Que tinha endereço e hora certa
Pertencia ao meu pai
A quem fiz esta promessa


SOUZA, Daniele.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Dependência vital

De tantos desamores, tantas dores. Não sei onde posso parar
Tantos dessabores que a mim arrebatam. Creio não saber me controlar
Ruínas me mastigam, me afogo em lágrimas. E ainda espero te beijar
Encarcerado por minha emoção, crio a deusa que temo jamais alcançar
Ainda assim, penso e digo: Amor, faça-me feliz pelo fato de apenas existir
Me debato, crio coragem e então peço: Oh, vem viver para mim!
Como tanto quis, um dia, enfim, eu sei, vou te ter aqui
Tal qual tesouro no recôndito velado, feito sutil e escasso rubi
De fato, em mim vivo para ti
Me perguntas e eu ouso responder que a você dou a vida
Pois que, a mim, prefiro a dor de um trágico morrer
Que conviver com o mais cruel legado de existir e não poder te ter
CARLOS, Bruno; SOUZA, Daniele.