quinta-feira, 18 de março de 2010

Uma confusão qualquer

Raça curiosa a humana. Esta dotada de seres que, ridiculamente, julgam-se detentores do saber - de todo ele.

Somando-se sabedorias daqui e dali, podemos até, quem sabe, constatar um saber científico absoluto. Porém nada faz-me acreditar que tal coisa seja possível no tocante ao que escapa do concreto. Há como discordar sobre o fato de que a respeito de abstrações não existe meio de se formular definições lógicas? Eu mesma respondo: Não, não há! É impossível criar ou seguir sentenças absolutas sobre isso simplesmente porque no "campo" dos sentimentos tudo é relativo, inconstante, volúvel, transmutável.

Com tal reflexão, quero discorrer sobre algo que há muito atordoa-me. Como é possível conhecer nossos sentimentos; nomeá-los descompromissadamente; medir suas dimensões; e neles imprimir marcas temporais como princípio, meio, fim? Saber que os tais existem já não seria o bastante? (Não por desisteresse em se conhecer mais a respeito, mas por uma evidente limitação constada no querer extrair deles minúcias que não nos cabe. Afinal, há longínqua distância entre o querer e o poder.)

Saber que sentimos não implica no direito de compreender o que ou quanto se sente - apenas degustamos se bom ou ruim.

Quem pode satisfatoriamente - sem arrodeios e meias-palavras - definir o que é amor? Muitos, corajosamente, podem arriscar-se a tentar. Contudo, mesmo sendo o amor da ordem do senso comum, não haverá uma só resposta no mundo isenta de um caráter extremamente particular. Isso porque o amor não possui uma identidade específica. (Forte isto!) Mesmo que alguns valham-se das mesmas palavras para descrevê-los, a cada um caberá significados e interpretações que lhos convém.

Amor é o que ou quem se quer e, paradoxalmente, nem tudo pode sê-lo. (Como explicar isto?) Para se dizer amor, deve-se ser livre de certas miudezas e abundante em outras - o que também não é regra mas é o que o empirismo pode argumentar.

Na realidade, quando conceituamos, definimos ou limitamos amor, não se trata do amor, entretanto de um amor. (Isso mesmo; apenas mais um.)

Esses amores tão certos e inegáveis - visto que o sentimos - são nossos; unicamente, especialmente nossos; problema nosso - digamos assim. Já o amor mesmo, supremo e muito bem acompanhado por artigo definido, este nada mais é do que o acúmulo de todos os amores e amantes universais. (O que torna-o rico e de inatingível estimativa quanto sua essência. É, pois, o sentimento maior.)

Extraindo do termo toda sua pompa para uma infeliz tentativa de amenizar quanto a ele nossa dúvida, diz-se que seria a conversão do palpável em irreal, capaz de promover substâncias de toda ordem ao mais próximo possível da perfeição.
SOUZA, Daniele.