Eis o esboço de um desabafo interno dum hipotético homem que já não é fabricado e cuja forma há muito desintegrou:
Uma imagem, a lembrança de sumptuosa voz exprimindo uma palavra; uma palavra esperançosa apenas e, então, entrego-me aos pensamentos furtivos que me agora são íntimos. Muito, muito vulnerável é o meu pensar. Neste instante, o pensamento é só euforia. (Lembranças me corroboram minha euforia.) Noutro, porém, a racionalidade a mim imposta por convenções sociais me é exigida e traz-me, grosseiramente, à realidade. Aliás, creio ser este um mal: pensar, procurar em tudo e todos um porquê, uma verdade com suas devidas competências; pensar, pensar demais, sentir de menos.
Romântico nato que sou, na contramão de um quadrante que tenta converter-me em um racionalista implacável, tenho de precaver-me em tudo. Ah, mas só o que desejo é não ter meus pensamentos furtados por ela - e é isto que desde já pressinto. Pois, como posso eximir-me do dever de a ela destinar meus quereres, e anseios, e desejos? Diga-me, como? Se com tal olhos, e boca, e jeito me arrebatou? Como, se não dependeu de mim decidir a ela ser aprisionado; se, antes, à força fui tomado? Mas tenho confesso que com gosto tal fardo assumi.
Se em algo diferente disto, diferente dela, tento concentrar-me, de prontidão encontro-me perdido em uma escuridão sedosa e envolvente - são seus negros cabelos que me embaraçam a mente. E se há algum castigo para os hostis desejos que me perpassam o pensamento é vê-la, senti-la, exalá-la e não tê-la por não podê-lo e, pior, por não sabê-lo.
Não sei, não sei... Definitivamente, não sei onde localiza-se a matriz dos sentimentos. E, por igual ignorância, não sei como agir sobre eles, como mudá-los, criá-los ou extingui-los. Resta-me, por conseguinte, vivê-los. Ei-los aqui comigo.
Ela, pobrezinha, controla involuntariamente o terrível que habita em mim. A esta altura, já cheguei à inferência que não sou meu proprietário. Sou dela, eu sou seu. E resta-me, por fim, entregar-me a tal legado.
Até os fins de meus dias viverei a certeza de um amar desesperado e meu, unicamente; de não conhecer o que vem a ser um ser amado.
Desconfio que, caso morra minha carne, ainda permaneçam vivos meus sentimentos - lembranças da dor e da felicidade de seu fiel hospedeiro, então já não mais atormentado, mas também não mais amando, não mais realizado.
Desde já, só o que sei é que existe o amor. E o que tenho dentro em mim é tão forte e envolvente... e eu o amo. Ah, sim, é isso! Eu amo o amor! E tal sentença apresenta-se a mim como maravilhosíssima, pois não conheço outra forma de me ser se não amando, ainda que com um amar solitário que me destine a também sozinho morrer.
Romântico nato que sou, na contramão de um quadrante que tenta converter-me em um racionalista implacável, tenho de precaver-me em tudo. Ah, mas só o que desejo é não ter meus pensamentos furtados por ela - e é isto que desde já pressinto. Pois, como posso eximir-me do dever de a ela destinar meus quereres, e anseios, e desejos? Diga-me, como? Se com tal olhos, e boca, e jeito me arrebatou? Como, se não dependeu de mim decidir a ela ser aprisionado; se, antes, à força fui tomado? Mas tenho confesso que com gosto tal fardo assumi.
Se em algo diferente disto, diferente dela, tento concentrar-me, de prontidão encontro-me perdido em uma escuridão sedosa e envolvente - são seus negros cabelos que me embaraçam a mente. E se há algum castigo para os hostis desejos que me perpassam o pensamento é vê-la, senti-la, exalá-la e não tê-la por não podê-lo e, pior, por não sabê-lo.
Não sei, não sei... Definitivamente, não sei onde localiza-se a matriz dos sentimentos. E, por igual ignorância, não sei como agir sobre eles, como mudá-los, criá-los ou extingui-los. Resta-me, por conseguinte, vivê-los. Ei-los aqui comigo.
Ela, pobrezinha, controla involuntariamente o terrível que habita em mim. A esta altura, já cheguei à inferência que não sou meu proprietário. Sou dela, eu sou seu. E resta-me, por fim, entregar-me a tal legado.
Até os fins de meus dias viverei a certeza de um amar desesperado e meu, unicamente; de não conhecer o que vem a ser um ser amado.
Desconfio que, caso morra minha carne, ainda permaneçam vivos meus sentimentos - lembranças da dor e da felicidade de seu fiel hospedeiro, então já não mais atormentado, mas também não mais amando, não mais realizado.
Desde já, só o que sei é que existe o amor. E o que tenho dentro em mim é tão forte e envolvente... e eu o amo. Ah, sim, é isso! Eu amo o amor! E tal sentença apresenta-se a mim como maravilhosíssima, pois não conheço outra forma de me ser se não amando, ainda que com um amar solitário que me destine a também sozinho morrer.
SOUZA, Daniele.