terça-feira, 27 de outubro de 2009

Saqueador da liberdade

Vou vos amando
E esses vos são muitos
Que nem conheço quantos
Ora um por sua vez
Ora todos, sem miudez
Porventura chama amor
Tão grotesca estupidez?
Já não sei

Vou vos amando
E amo tanto e como amo!
Eternos dias, vezes meses
Amo, num segundo, anos
Sem querer amar, eu amo
Sem poder amar, insisto
Sem saber dosar, sobejo
Sem ter um porquê, esfrio

Vou vos amando
E demasiado enlouqueço
De tão atônito, desatino
Com um amar que não controlo
Por um descanso que não atinjo
E abusando livre-arbítrio
Jamais perdoa, sai amando,
É destemente do perigo

E de negar proposições
A despeito do esperado
Que de amor se faz a vida
Não procede no meu caso
Invés disso, vou perdendo
A prática do raciocinar
Aos poucos me vou morrendo
Por não saber desamar

Sonho um amar humilde
Amar comum, bem comedido
Mas é moléstia e senão crime
Fantasiar um tal deslize
Do que se ufana e não permite
Que por si só se pronuncie
E mostre-se como me é lícito -
Não vassalado nem medíocre

Mas que amar deseducado
Falta-lhe garbo, é estabanado
Porquanto vai sozinho amando
Sem ter alguém agradecido
É este meu amor martírio
E a duras penas vou levando
Amor que é auto-corrosivo
E cuida de deixar-me em prantos

Sem permissão, vem me agredindo
O que tampouco escolhi
E, ainda assim, chamo de meu
Visto que com ele nasci
E assim prossegue o iníquo
Violentando meu espaço
Reprimindo-me o direito
De escolher o meu amado
SOUZA, Daniele.