quinta-feira, 22 de julho de 2010

Partejamento da lógica do social

O século XVIII, conhecido como século das luzes, é marcado por grandes revoluções que rompem com antigas concepções e instauram novas, abrangentes aos mais diversos aspectos da vida social. É marcado por uma profusão de mudanças e transformações de ordem: política, econômica, social, religiosa, científica e afins.

O ocasionamente de marcos quais o Iluminismo - conjunto de novas ideias que rompem com a teoria social ancorada no modo de pensar religioso -, as Revoluções Francesa e Industrial - esta de caráter econômico e aquela de cunho político -; o capitalismo como modelo econômico vigente e, por sua vez, potencializando fenômenos como a desigualdade social, o reconhecimento de novas classes sociais: burguesia e proletariado, o desapego às concepções religiosas e, por conseguinte, a identificação com a razão e sua busca, dentre tantos outros acontecimentos, serviu como cenário propiciador e propulsor das condições para o surgimento da ciência da sociedade.

Uma ênfase à questão da razão faz-se necessária nesse contexto. Isto porque ela - a razão - fora proclamada como princípio organizador da vida social. (Na essência deste termo encontra-se também intrinsicada a noção de indivíduo, que, a seu modo, assumiu a responsabilidade de protagonizar novos padrões de organização da sociedade e, mais ainda, novas maneiras de pensar e de praticar esse pensar - na forma de ação social.)

Tais especulações no campo das ideias e das relações sociais, sintetizado pelo conhecimento autônomo da vida social, cria as condiçõe básicas para o saudável repontar de uma nova ciência: a Sociologia. (Este fenômeno, antes de mais nada, decorreu da pressuposição de que o processo histórico possuem uma lógica de passível apreensão.
SOUZA, Daniele.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Compreensão antiga x Compreensão moderna do tempo

O vocábulo "tempo" constitui-se como um dado um tanto complexo de ser definido e conceituado. Justamente por esse motivo, nem sempre encerrou em si as mesmas atribuições. Tais contrastes tocantes às diferentes formas de enxergar e pensar evidenciam-se, a rigor, nos tempos antigo e moderno; tempos esses em que a abordagem quanto a este único assunto faz-se de modo tão multifacetado.

No mundo antigo - tratando-se principalmente dos gregos - só se pensava tempo como sendo algo concreto e, para tal, constumava-se atribuir-lhe fatos e acontecimentos relevantes à época, tais quais: períodos de colheitas, de gueras, questões climáticas, e outros. Os gregos, ainda, associavam tempo à questão de ciclos que a natureza apresenta de nascimento, desenvolvimento e fim. E, com propriedade, pensavam o homem e a sociedade sob a lei de ascensão, degeneração. Era, portanto, para um grego impensada a ideia de agrupamento e acréscimo de tempo ou quaisquer outros fenômenos da vida. E essa distorção no pensar é descontruída por uma evidente conquista moderna: a noção de progresso.

Foi na modernidade que se passou a apontar e entender a História como conjunto das ações da humanidade e a perceber uma gradativa evolução, um notável progresso. Apontamento que exige uma compreensão não mais concreta de tempo mas abstrata, por excelência. Partindo dessa inferência seguem-se as demais demarcações relacionadas a tempo, quais: entendê-lo como algo passível de agrupamento, bem diferente de ciclos ou linhas constantes - como no caso da filosofia escolástica - mas, sobretudo, uma reta crescente, ascendente, progressiva, em última análise; entendê-lo como um fluxo infinito, uma lacuna, um intervalo vago a ser preenchido mediante realizações, seres e fatos. E, tanto é evidente e destacado esse ideário moderno de tempo e progresso que se torna possível e, mais, saudável e comum, a façanha de olhar para o passado, avaliá-lo, estabelecer comparações com o presente, realizar intuições com relação ao futuro e tantos outros feitos permitidos por toda essa abstração que ele comporta em sua essência. 
SOUZA, Daniele.
*Artigo apresentado em prova do domínio Filosofia e História.
(Conceituação: 10)

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Como diria Caetano: "Tempo, tempo, tempo, tempo..."

O tempo por ser, em sentido próprio, um dado conceitual um tanto quanto complexo nem sempre possuiu a mesma identidade de definições. A rigor, ele encerrava em si nos tempos antigos modos de compreensão que em todos os aspectos contrastam-se com o modo moderno de compreendê-lo.

Através da ótica antiga e especialmente grega, não a palavra mas o fenômeno tempo era concebido, entendido, como algo de caráter concreto necessariamente preenchido por um conteúdo relevante para os povos que ele - o tempo - viviam e sobre o qual pensavam, como: o tempo da colheita, o tempo da guerra - para citar apenas alguns. Tal pensamento, se pensado mediante uma forma gráfica, teria "feições" cíclicas. E esse tempo cíclico estaria baseado em uma analogia com o ciclo que rege a natureza, de nascimento, desenvolvimento e fim. Assim como ocorre na natureza também ocorreria aos homens e ao Estado, segundo os antigos: surgimento, apogeu, declínio. (A saber, inexistindo em tal processamento de ideias a de sobreposição de sociedades e gerações diferentes.)

Esse modo de entender o tempo desconstroi um conceito fundamental alcançado pela modernidade: o progresso. A partir da idade moderna, passa-se a entender a História como um conjunto de ações da humanidade que apresenta gradativamente uma evolução, um progresso. Mas para se chegar a tal inferência fez-se antes necessário entender tempo como algo abstrato e passível de acréscimo. (E esta para os gregos, os antigos, era uma hipótese inimaginável. Torna-se impossível a ideia de acrescentar, de agrupar, quando se pensa ser preciso destruir, pôr fim, para iniciar ou criar algo. A noção de progresso é, portanto, incompatível com o ideário cíclico de tempo.)

Progresso pressupõe constante acréscimo, constante melhora. E tal conclusão é alcançada na modernidade, que compreendia tempo como um instante, um fluxo infinito; uma lacuna a ser preenchida com realizações mediante o "desenrolar" da História. Essa ideia possibilita acumulação de coisas, seres e feitos, permitindo comparações, autoavaliações e suposições mediante a consciência de progresso.
SOUZA, Daniele.
*Esboço do artigo Compreensão antiga x Compreensão moderna do tempo.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Contadores de histórias x Construtores da História

"história sf 1. Narração metódica dos acontecimentos sociais, políticos, econômicos e culturais notáveis e dignos de memória, ocorridos na vida da humanidade, de um povo ou de um Estado; 2. estudo das origens ou progressos de uma arte ou ciência; 3. narração, narrativa; 4. fam fábula, mentira; 5. pop conversa fiada. Cf historia do v historiar."

Saber história, ser história, fazer História: faz parte do ofício de ser um ser. Mas não é de qualquer forma que isso ocorre. Não basta ser, há de se existir para construir. Tal reflexão não se detém à discussão sobre estar ou não vivo - tendo-se isso como um pressuposto básico - mas, sobretudo, discorre sobre a consciência de que se vive. Consciência esta que localiza-nos no tempo e espaço como receptores de legados passados, autores de contemporaneidade e projetores do que ainda há de ser e haver - e que, possivelmente, nem desbravaremos, visto que o futuro é nosso mas não nos pertence.

É inegociável, para tanto, a condição de examinadores e conhecedores do que se foi e a de engajados nas instâncias e responsabilidades presentes. Com isso, constrói-se o não conformismo com o que de errado foi implantado e a preocupação em não estar aquém em relação aos grandiosos feitos edificados, à princípio, no histórico estático social e, pois, promovidos ao histórico dinâmico social. Desperta-se o desejo de ser homem - agente ativo e construtor - e não um ser apenas - expectador, passivo.

Há de se salientar ainda que para que ocorra tal transcendência - de história para História - faz-se necessário tornar as práticas sociais dignas de notoriedade e, portanto, merecedoras de um lugar também nas memórias que virão. Isso configura honra para quem ou o que é lembrado e também para quem tem tal oportunidade e prazer. À margem disso, o que constrói-se nada mais é que uma narrativa solta, perdida em si ou mesmo nos ares, sem importância alguma para a posteridade - talvez nem mesmo no momento em que se deu.

Escave, esmiuce, vasculhe, procure, descubra, conheça, revire, saiba a História. Veja, lembre, aconteça, crie, reinvente, acrescente, mude, seja, faça, viva a História! Não esteja alheia a ela, jamais. Caso contrário, consistirás apenas em uma sombra de algo poderia ter sido mas não o quis.
SOUZA, Daniele.

Teconfundíndome

Aspiro tua ofegância
Pressinto teu chegar
Dispo tua vergonha
Enfeitiço teu olhar

Convido-te à insônia
Penetro teu sonhar
Aprisiono tuas vontades
Deslizo em teu cuidar

Contorno teus mistérios
Consigo o teu tentar
Escuto tua pele
Desvendo o teu calar

Sufoco teus quereres
Devoro teu pensar
Abraço, pois, teu beijo
Atinjo um murmurar

Exalo teus sabores
Aumento teu pulsar
Encerro-te em mim
Converto-te a me amar
SOUZA, Daniele.

Puerícia perdida

Quisera eu saber onde recata-se a pureza da infância!

Dia ante dia apresenta-se a mim sem que sinta tal fenômeno. Em dado momento, não mais me reconheço ao mirar o espelho. Percebo então, em mim, olhares - por vezes distantes, outras lúgubres; desenhos que definem e detalham preocupações inegáveis, eternizadas na face; lábios que já minaram tanta singeleza e, hoje, apenas destemperanças, despropósitos. Sussurro algo - como que querendo impor à voz uma suavidade não convincente - e o que noto é amargura e frigidez. Ah, e ainda me sobram os pensamentos para serem vasculhados, mas também estes me foram violados - e tanto que não remontam nem de longe uma mente tempos atrás permeada por devaneios, quimeras. Antes, deparo-me, à contragosto, com um pensar irrigado por inquietude e sofrimento.

De tudo que fui, comparado a um resíduo que sou, por resistência própria conseguiu salvar-se do amargor apenas meu coração. Não está ileso, contudo resguarda em si provas do quanto fora feliz. E palpita ainda incrivelmente na mesma cadência, no mesmo compasso ordinário. Um filete apenas de lembranças queridas ainda mantém, em parte, sua vida - hoje apenas um vestígio de uma outra adoravelmente pueril.

Quisera eu pudesse voltar no tempo e permitir-me à felicidade que só se colhe de manhã. Entregaria-me às asas da liberdade de pensar, amar, traquinar; e estaria, enfim, eximida de todo um viver cativo em mim - que mais me conferira margens ao morrer que ao gozar.
SOUZA, Daniele.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Uma confusão qualquer

Raça curiosa a humana. Esta dotada de seres que, ridiculamente, julgam-se detentores do saber - de todo ele.

Somando-se sabedorias daqui e dali, podemos até, quem sabe, constatar um saber científico absoluto. Porém nada faz-me acreditar que tal coisa seja possível no tocante ao que escapa do concreto. Há como discordar sobre o fato de que a respeito de abstrações não existe meio de se formular definições lógicas? Eu mesma respondo: Não, não há! É impossível criar ou seguir sentenças absolutas sobre isso simplesmente porque no "campo" dos sentimentos tudo é relativo, inconstante, volúvel, transmutável.

Com tal reflexão, quero discorrer sobre algo que há muito atordoa-me. Como é possível conhecer nossos sentimentos; nomeá-los descompromissadamente; medir suas dimensões; e neles imprimir marcas temporais como princípio, meio, fim? Saber que os tais existem já não seria o bastante? (Não por desisteresse em se conhecer mais a respeito, mas por uma evidente limitação constada no querer extrair deles minúcias que não nos cabe. Afinal, há longínqua distância entre o querer e o poder.)

Saber que sentimos não implica no direito de compreender o que ou quanto se sente - apenas degustamos se bom ou ruim.

Quem pode satisfatoriamente - sem arrodeios e meias-palavras - definir o que é amor? Muitos, corajosamente, podem arriscar-se a tentar. Contudo, mesmo sendo o amor da ordem do senso comum, não haverá uma só resposta no mundo isenta de um caráter extremamente particular. Isso porque o amor não possui uma identidade específica. (Forte isto!) Mesmo que alguns valham-se das mesmas palavras para descrevê-los, a cada um caberá significados e interpretações que lhos convém.

Amor é o que ou quem se quer e, paradoxalmente, nem tudo pode sê-lo. (Como explicar isto?) Para se dizer amor, deve-se ser livre de certas miudezas e abundante em outras - o que também não é regra mas é o que o empirismo pode argumentar.

Na realidade, quando conceituamos, definimos ou limitamos amor, não se trata do amor, entretanto de um amor. (Isso mesmo; apenas mais um.)

Esses amores tão certos e inegáveis - visto que o sentimos - são nossos; unicamente, especialmente nossos; problema nosso - digamos assim. Já o amor mesmo, supremo e muito bem acompanhado por artigo definido, este nada mais é do que o acúmulo de todos os amores e amantes universais. (O que torna-o rico e de inatingível estimativa quanto sua essência. É, pois, o sentimento maior.)

Extraindo do termo toda sua pompa para uma infeliz tentativa de amenizar quanto a ele nossa dúvida, diz-se que seria a conversão do palpável em irreal, capaz de promover substâncias de toda ordem ao mais próximo possível da perfeição.
SOUZA, Daniele.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Olhar amante

Minha memória é, por conta própria, condicionada a captar do universo apenas aquilo que lha convém. E, de nós dois, é isto que percebo.

Vasculhando rastros de nossos momentos, debruço-me por sobre um fato sem par. Uma escassa e ingrata, única imagem capaz de a mim provar que não é sonho o que entre nós há. Por mais força que faça ou por mais vontade que tenha, dos meus sentidos só um não resiste em confiar-me nossa tão casta e símplice história. Ah, e meus lábios riem-se ao lembrar de como conversam nossos olhos. Olhos que se entendem, dançam entre si e confortam-se - como que parecendo serem donos de uma certeza relativa ao futuro. Tais que parecem saber que, não muito distante, poderão estar mais íntimos - tão íntimos! - a ponto de, então, confundirem as marcas de suas impressões advindas de tudo que difere deles - fundindo-os, inacreditavelmente, em um só.

E - será possível!? - constituirão um só; um só ângulo, uma só herança. (Contudo, não perdendo-se a pluralidade de informações, mas, sim, acrescendo-se intensidade, qualidade e maior importância na arte do observar.)

Nossos olhos interagem tanto! E como entendem-se! Causa-me espanto.

Nossos olhos conversam tanto! a ponto de aquilo que é externado e pode, pois, ser testemunhado pela atmosfera local ter de contentar-se estar em segundo ou mesmo em nenhum plano - já que, de tudo, o que cuido eu em guardar são os sincronizados movimentos de seus, nossos olhos. Eles se bastam! (E ditam mais a mim o que preciso saber que todas as demais formas de expressão poderiam me descrever.)

Nessas nossas conversas - em que o assunto é um pretexto e o que importa é a companhia - nossos olhos se amam, fazem juras, casam-se e, desde já, são felizes para sempre. Que curioso que é isto, pois em tão peculiar diálogo, posso depreender respostas e ter certeza do "sim" que vem do olhar de meu amado.
SOUZA, Daniele.

terça-feira, 9 de março de 2010

Sim, é possível!

Vida só tem sentido se nela forem estabelecidas metas as quais fazem jus aos nossos ideiais. Utopia ou não; quimera ou não; vendo realizado ou não aquilo pelo qual luta-se; injusto seria acovardar-se e, no meio da trajetória, estagnar.
É preciso ser sonhador, sim. E preferível seria ter na vida um fim do que porventura possuí-la isenta de sonhos, anseios. Não mais haveria porquê vivenciar algo que não se acredita, a vida em si.

É preciso acreditar no que se pensa; acreditar nos seres denominados humanos. Acreditar que aqueles que se dispuserem a ser diferentes terão êxito e contribuirão para a melhora de suas vidas, da vida de seus descendentes e também dos omissos, indiferentes e apáticos que maioria configuram.

Sim, é louvável possuir uma vida com propósito!
SOUZA, Daniele.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ordem e progresso, nesta ordem

Ao longo da História, o homem inseriu, naturalmente, nos espaços por ele ocupados, registros de sua evolução que caracterizam um ou outro estágio de progresso por ele assumido. Nesse processo de construção de sua identidade humana, ele fundamentou, dentre muitos outros, o conceito de ética - que, segundo dados históricos, acompanha-o desde o princípio de sua trajetória e aponta traços históricos, temporais, culturais e outros.

Os valores encerrados pelo vocábulo "ética", no Brasil, obedecem a leis de localização geográfica, de acúmulo cultural tão diversificado e, notadamente, da própria globalização - marca do século XXI -, que acaba por fundir os tais, oriundos daqui ou de acolá, de modo sutil, mas que, nada obstante, pode resultar em um abandono dos valores éticos e essenciais, à medida em que se perde o referencial e, destarte, o indivíduo não é mais capaz de reconhecer o que é defendido como correto ou viável pelo grupo do qual faz parte.

O desapego aos valores em questão é massificado ao senso comum de maneira cada vez mais recorrente e, como consequência, é tido como normal pelo saber popular. Tal prática é, por assim dizer, "financiada" por interesses, em princípio, individuais que se sobrepõem ao que há com real importância para a totalidade. Assim sendo, a troco de somar conquistas particulares a qualquer custo, sabotam-se princípios éticos, morais, sociais, políticos, religiosos e de toda ordem, como que ridicularizando-os.

No Brasil é cada vez maior o contingente de pessoas que, com fins à projeção pessoal, ultrajam os limites éticos dos escritos "Ordem e Progresso" grifados na bandeira nacional. Deve-se ficar entendido que quando se nega ajuda a um ser humano abandonado à própria sorte - ou falta de - tanto como ao faltar com a verdade em um discurso político - maior ou menor - o mal causado é convertido ao todo, condicionado a sofrer as consequências dos que apresentam posturas contrapostas à dignidade e decência.

Os desvios de conduta apresentados são decorrentes de deficiências constadas, essencialmente, no desenvolvimento integral do ser. O que exige, pois, uma ação social direcionada, sobretudo, para o que há de mais preponderante e determinante em sua formação: a educação. Empenhados nessa árdua tarefa deve estar a sociedade por completo, contudo, dois núcleos deverão ainda mais o ser: a família e a escola. Somente dessa forma pode-se modificar o quadrante do indivíduo frente à ética nacional.
SOUZA, Daniele.
*Dissertação que me garantiu aprovação no vestibular.

Abdução do pensamento

Ele é a extensão do informe e do abstrato ao real e concreto que há em mim. Pois no pensamento, ele tem o poder de por-me em conflito comigo mesma. Então, penso, cobro-me; arrependo-me a ponto do conotativo denotar-me dores angustiantes e conflitos enlouquecedores. Faz-me deslocar a mim de um lugar ao outro sem notar nada pelo caminho, visto que nele e em tudo que está a volta, fora de mim, nada faz sentido.

E a escuridão não me assuta; e o frio não penetra minha pele; e as pessoas não são importantes. Estou impermeável; num conflito interno com um inimigo invisível, constante, jamais exibido ou revelado a mim. Porém, que me parece íntimo.

Você não sabe de quem estou falando. Porquanto ele escolhe apenas um para fazer companhia.

Quando saio desses momentos como fossem de hipinoze, tento centrar-me e buscar respostas em vão: "Quando, onde e como permiti-me envolver; de que forma e por que aceitei me desprender?" A resposta que desejo, à mente não vem. Só o que ficou em mim, desde sua primeira aparição, ou não, foi uma breve e fria apresentação:
_ Prazer, sou seu Inconsciente.
SOUZA, Daniele.

Mistério dos olhos

Ninguém é tão forte a ponto de nunca haver chorado
Eu, não diferente dos demais, chorei, confesso
Ah, sim, eu chorei!
Sinto em mim um estranho sentimento envolvente
Conferido pelo choro recente que me veio sem que o quisesse
Um choro abafado ora pelas mãos, ora pelo travesseiro -
Este, molhado, quente de tanto testemunhar esta melancolia a mim acometida

Mais do que o choro incontrolável de meus olhos
É o choro de minha alma
"Por que chora minh'alma se sabe haver quem a console?
Será por falta de alguém que não mais tem?
Será por algo que acontece sem porquê?"
O motivo é algo que, julgo eu, não deva ser proferido
Mesmo porque, seria de difícil crédito

Mas a natureza realiza seu ritual
Dia some, noite vem
E, deitada com o travesseiro ainda molhado,
Sinto do alto vir refrigério
Meu Deus a me acalentar
Cuidando de mim como um Pai
E, agora, mais esperançosa, sem perceber,
De um sono profundo posso desfrutar ao adormecer
SOUZA, Daniele.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O último romântico


Digamos que um ser contemporâneo, um tanto quanto inusitado, restara de uma raça de românticos abundante há alguns séculos passados. Como seria sua ótica sobre o amor? Quais seriam suas aflições? Que traços apresentariam as colocações de um corpo másculo com essência de sexo frágil?

Eis o esboço de um desabafo interno dum hipotético homem que já não é fabricado e cuja forma há muito desintegrou:

Uma imagem, a lembrança de sumptuosa voz exprimindo uma palavra; uma palavra esperançosa apenas e, então, entrego-me aos pensamentos furtivos que me agora são íntimos. Muito, muito vulnerável é o meu pensar. Neste instante, o pensamento é só euforia. (Lembranças me corroboram minha euforia.) Noutro, porém, a racionalidade a mim imposta por convenções sociais me é exigida e traz-me, grosseiramente, à realidade. Aliás, creio ser este um mal: pensar, procurar em tudo e todos um porquê, uma verdade com suas devidas competências; pensar, pensar demais, sentir de menos.

Romântico nato que sou, na contramão de um quadrante que tenta converter-me em um racionalista implacável, tenho de precaver-me em tudo. Ah, mas só o que desejo é não ter meus pensamentos furtados por ela - e é isto que desde já pressinto. Pois, como posso eximir-me do dever de a ela destinar meus quereres, e anseios, e desejos? Diga-me, como? Se com tal olhos, e boca, e jeito me arrebatou? Como, se não dependeu de mim decidir a ela ser aprisionado; se, antes, à força fui tomado? Mas tenho confesso que com gosto tal fardo assumi.

Se em algo diferente disto, diferente dela, tento concentrar-me, de prontidão encontro-me perdido em uma escuridão sedosa e envolvente - são seus negros cabelos que me embaraçam a mente. E se há algum castigo para os hostis desejos que me perpassam o pensamento é vê-la, senti-la, exalá-la e não tê-la por não podê-lo e, pior, por não sabê-lo.

Não sei, não sei... Definitivamente, não sei onde localiza-se a matriz dos sentimentos. E, por igual ignorância, não sei como agir sobre eles, como mudá-los, criá-los ou extingui-los. Resta-me, por conseguinte, vivê-los. Ei-los aqui comigo.

Ela, pobrezinha, controla involuntariamente o terrível que habita em mim. A esta altura, já cheguei à inferência que não sou meu proprietário. Sou dela, eu sou seu. E resta-me, por fim, entregar-me a tal legado.

Até os fins de meus dias viverei a certeza de um amar desesperado e meu, unicamente; de não conhecer o que vem a ser um ser amado.

Desconfio que, caso morra minha carne, ainda permaneçam vivos meus sentimentos - lembranças da dor e da felicidade de seu fiel hospedeiro, então já não mais atormentado, mas também não mais amando, não mais realizado.

Desde já, só o que sei é que existe o amor. E o que tenho dentro em mim é tão forte e envolvente... e eu o amo. Ah, sim, é isso! Eu amo o amor! E tal sentença apresenta-se a mim como maravilhosíssima, pois não conheço outra forma de me ser se não amando, ainda que com um amar solitário que me destine a também sozinho morrer.
SOUZA, Daniele.

Encomenda

Amor, amor mesmo é aquele que se realiza, que é posto pra fora. É quase que uma excreção necessária, pois quando excreto pode ser visto e comprovado por mim, por todos.

Não que se apenas para dentro ele for não exista, mas daí recebe outro nome: vontade, apenas; e, caso não externado, acaba por morrer e, então, o nome já é outro: lembrança, que, com o passar do tempo, ganha sobrenome: perdida.

Fazer tal sentimento real consiste em expulsá-lo de si para que ele possa ser de alguém. Fora isso, amor não o é, mas aspiração vazia, falida.
SOUZA, Daniele.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Felizes para sempre...


Eu procuro o amor perdido nas páginas,
Desgastado nas cenas, hibernado onde não sei

Eu procuro o amor de fazer derreter mãos,
De aprisionar no ser a voz, de sacolejar o coração

Eu procuro o amor que entrelaça, antes, mentes, pensamentos;
E, só então, matérias sedentas, postas em erupção

Eu procuro o amor dos contos surreais
Que à infancia não pertencem mais,
Contudo que nutrem de fantasia ao menos um coração

Eu procuro o amor que prende olhar no sorriso
Olhar que no tocar do amado corpo encontre repouso,
Encontre abrigo de tudo mais que difere de tal gozo

Eu procuro o amor que não procure lábio;
Que procure alma, encontre essência,
Parte de si no estranho mais íntimo que lhe há

Eu procuro o amor capaz de vencer a banalidade que é o desejo solitário
Mas que seja frágil ao opor-se a si mesmo,
E, para tanto, cultue, pois, o seu templo divino, adorado

Eu procuro o amor de entrega magistral
Que não ameaça evitar coisa igual
Que ri de tal sentença, visto que é tola, ilegal

Eu procuro o amor quimeresco, rudimentar, avassalador
Amor irreverente, intenso e, por que não, amado
Amor que tanto idealizo e como miragem vejo

Eu procuro o amor que se perdeu no tempo
Que o levou o vento por permitirem-no, sem me consultar

Eu procuro o amor que habita em mim
Mas é prematuro para amar

Eu procuro o amor que não se possa descrever
Que venha a surpreender, que eu não saiba viver
Nem tampouco controlar

Eu procuro o amor digno de mim
Digno de se dizer amor
Digno para que eu possa amar
SOUZA, Daniele.

Saudade

É um sorriso tímido por motivo qualquer num tempo remoto
É uma lágrima sofrida e vagarosa e que, por fim, só é marca pois seca e, então, é pele, papel ou chão
É olhar perdido vagando no caos da ignorância do tudo no qual não se encontra absolutamente nada
É um gesto banal e estúpido de quem, por um instante, sonhou acordado, viveu o passado mas lembrou estar no presente, infelizmente
É uma verdade já sem compromisso e que faz sentido só para quem a realmente sente
É a persistência no pensar em algo que se teme perder no tempo, na História, em si
É a subjetividade de um querer concreto, de um anseio sem apoio; uma lembrança, nada mais
É o que foi, era ou seria; a mais fulgaz melancolia, ou mesmo vã felicidade, a qual se guarda até de tarde que é pra rememorar de um tudo que se viveu ou pretendia
É uma história com final assim... talvez triste, quiçá feliz
SOUZA, Daniele.

Indefinido

Ele é o relativo, irreverente, instável, vulnerável, incorrigível, incontrolável, fatal. Ele mesmo é o absoluto, centrado, previsível, seguro, correto, contido, vital.

Um paradoxo nato contrapondo a todo o tempo seus próprios equívocos e contradições. Sim, nas inconstâncias consiste o amor.
SOUZA, Daniele.

Desprezível eu

É tão difícil achar-se puro quando o material que nos reveste é indecoroso e vil. É mais fácil enfrentarmos uma guerra civil que confrontarmos nossa razão com a emoção e subjugarmos nossa própria carne.
SOUZA, Daniele.

Procura-se

O amor é um foragido do qual não se acumula dados. Só sabe-se a seu respeito que possui um nome, uma forma e que tem por objetivo fazer vítimas de suas iniquidades.
SOUZA, Daniele.