quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Mensagem especial

Estrela, amiga que anuncia,
Se jazes mesmo no céu de meu querido
Levai a ele notícias de meus sentimentos
Diz-lhe, em favor, que dele preciso
E não deixe de lhe fazer um pedido:
Que pare já de ser mesquinho
E comunique, então, que seja um dedinho de prosa
Através desse firmamento, que por igual nos encobre
E reveste de esperanças tantos dos meus pensamentos

Ai! que desassossego traz o desatento ao coração
Dedique-lhe, pois, teus sóbrios conselhos
Ensine-o, com tua voz luminosa, segredos
Confie-lhe, em enigmas, toda a verdade
Garanta-me que, enfim, ele a conhecerá

Estrela-guia que me conduz a mui abstratos caminhos -
Que sozinha não consigo; que, limitada, desconheço -,
Oferte-lhe as certezas de que ele necessita
Para entregar-se a mim sem medo
Tragas-me, como conforto, cada vestígio seu de reação

Esperançosa estou de que ele há um dia de me confiar
Que o sentimento que tenho em mim
Tem mais que a tua luz para acompanhar
E que será, por fim, mais nosso
E não unicamente meu
SOUZA, Daniele.

domingo, 15 de novembro de 2009

Desabafo

Essa tinta não me pertence. E esse papel, tão reduzido! Mas se há tanto para te confessar, por que cargas d'água não consigo? Tenho muito para falar; guardo tanto. Mas vou tentar.

Montpellier, 09 de fevereiro de 1959.

Meu caro,

Tenho de dizer que cansei de te esperar. Esperar que tu cumpras aquilo que, quando menos pensava ou pretendia, prometias. Estafei de aguardar essa vontade - primeiro tua - amadurecer; esse olhar me perfurar, maltratar, fazer doer; esses teus desejos e pedidos de estar perto tornarem-se verdade.

Quanto mais me chamas mais longe fazes questão de te apresentar. O que queres, afinal? Confundir-me? importunar-me? - ou pior - enamorar-me a ponto de me aprisionar? Desculpe, querido, mas não há graça em tal castigo que queres me condicionar.

"Tu és responsável por aquilo que cativas", já dizia o poeta. Concordo; ratifico. E se há um culpado desse amor, tu és, oh malfeitor.

Já que não tiveste zelo comigo, todo cuidado merecido, de hoje em diante, será mais prazeroso dedicar-me a tornar este sentimento noutro que cultivá-lo como o fiz até aqui. Tirarei, pois, um peso de mim e me perdoarei ao isentar-me da responsabilidade de te ver sorrir, de te fazer feliz, de viver em função de ti.

Passar bem,
Isabelle


SOUZA, Daniele.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Luar do céu!


Que outra forma há de se explorar a vida senão vivendo-a? Desdobrando esquinas e avistando o repontamento de estradas, vai-se redescobrindo o velho, apreciando o novo e conhecendo o que não se espera. Ontem mesmo, como que por acaso, ao margear a silhueta de uma estrada, calaram-se as vozes, apagaram-se as luzes, desistiram de o ser as cores, sobrando no cenário eu, um sombrio oceano antigravidade pintado por um confuso azul - dado por certa luminosidade recatada - e, por fim, um espetáculo natural mergulhado em pompa e esplendor: o luar.

A lua. Isso mesmo foi o que contemplei. Apenas a lua.

Num impulso egocêntrico, pensei haver ela surgido propositadamente naquela cena só para mim. Ninguém mais parecia ser capaz de observar - digo, parecia nem haver alguém para fazê-lo - que a lua não luarava igual, mas assumira caráter abstrato e já não comportava as interpretações meramente científicas a seu respeito; conquistara uma conotação infinda, com exuberância tal e soberania tão... de difícil alcance fidedigno.

Ao voltar ao ambiente e aos que me faziam companhia, ousei tentativas frustradas de relatar o que aquele corpo celeste, ainda que inerte, comunicava-me. Não sabendo fazer-me compreendida, recorri a um diálogo interno que me serviu de canalizador das multi impressões acrescidas a mim naquele breve momento. "Como um artigo tão comum a minha visão pode, num momento sem mais, despertar-me inspiração, fazer-me olhá-lo com olhos de ver e por ele me encantar?"

Não que apenas no fatídico momento ela - a lua - tenha tornado-se especial. Mas minha visão, esta, sim, modificou-se. Sob minha ótica limitada a apenas uma dimensão do luar, pude enxergar profundidade - um conteúdo antes não consultado - suficiente para alimentar o interior de paz e trazer mais respostas que perguntas, por longa data.

Lua... com traços tão sutis e modesta em cores, exibe com encanto seu temperado brilho. E em comparação a grandeza que é o sol, vejo-a com ainda mais garbo. Pois sua majestade é legitimada justo no momento em que todas as atenções tendem a voltar-se para ela, já que, na noite, constitui a mais notória e inteligente fonte de luz. (Uma fonte egoísta, fundida em medidas exatas: nem em exagero, para não abrir margem a outras belezas; nem tão cativa, para que seja melhor apreciada.) Seu brilho é comedido, não é atrevido nem tirano. Respeita o desejo do ser de ser ou não por ele penetrado. Traz equilíbrio, dispensa elogios - haja visto que ela por si em beleza se basta. É um bem sempre presente e disposto. Fazendo-se preciso, para desfrutá-lo, querê-lo, contemplá-lo, e, pois, apreciá-lo tal qual merece ser venerado.
SOUZA, Daniele.

Não cabes em mim

Mui limitado é meu pensamento e ainda mais o era, até que O conheci. Desde então, dediquei-Te meus desafios e em cada um Tu pudeste me suprir.

Tantos eram os pedidos, e quantas as inseguranças. Não obstante, ainda maiores apresentavam-se Tuas provisões, as quais cediam-me aquilo cujo minha mente não alcançava como viável. Desse modo, enchias-me de grande emoção.

Aos bocados, conheci parte de Tua glória. E este poucochinho foi o bastante para me convencer de Tua infinitude. Oh, como confio em Ti! Tanto que como prova dedico-Te minha vida, que nada vale se não jazer em Ti.

Tu és comigo tão paciente e em tudo me susténs. E mesmo sendo eu um ser de todo abominável, desprezas minha iniquidade e despes-me de meus pecados. Tornando-me, então, mais digna de habitar próximo a Ti.

Agradecida estou e sou visto que habitas em mim. E hoje, pois, chamo-te Pai pelo direito que com o dom gratuito concedeste-me de ser adotada por Tua graça, abrangida pela Tua misericórdia e vítima de um amor tão grande, dotado de todas as propriedades que tal expressão possa compreender.

Aguardo em ansiedade o momento em que inaugurarás o dia ininterrupto em que Te verei, finalmente, face a face.
SOUZA, Daniele.

.

Bem-vinda, bem-vista liberdade

Conquistei-te, oh liberdade. Arrematei esse direito todo preso em ti de murmurar ao relento, de gritar para dentro; deitar, sonhar, acordar e por aqui te encontrar.

Liberdade, liberdade, afugentaste meu medo de te querer e te exibiste toda linda, toda prosa - sinuosa para mim. Provei-te; agradei-me. E já te quero sempre aqui.

Liberdade, acomode-se. Sinta-se à vontade. Desenhe nessa viola aquela nossa trilha sonora. E não te excedas. Antes, sejamos moderados. Não te afobes, que a lida está em princípio. Há muito ainda a aprender sobre a arte de ser... livre!
SOUZA, Daniele.


Janela d'alma

Por ti tateio os relevos da vida
Desbravo contornos, desgostos, anseios
Descubro sabores, desperto desejos
Encontro coragem e sigo a lida
Se te aprendo usar, apaixono-me ainda
Pelo que há no entorno semelhante a magia
Adornado de modo a conferir alegria
Conferindo vontade de te apresentar para a vida
SOUZA, Daniele.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Saqueador da liberdade

Vou vos amando
E esses vos são muitos
Que nem conheço quantos
Ora um por sua vez
Ora todos, sem miudez
Porventura chama amor
Tão grotesca estupidez?
Já não sei

Vou vos amando
E amo tanto e como amo!
Eternos dias, vezes meses
Amo, num segundo, anos
Sem querer amar, eu amo
Sem poder amar, insisto
Sem saber dosar, sobejo
Sem ter um porquê, esfrio

Vou vos amando
E demasiado enlouqueço
De tão atônito, desatino
Com um amar que não controlo
Por um descanso que não atinjo
E abusando livre-arbítrio
Jamais perdoa, sai amando,
É destemente do perigo

E de negar proposições
A despeito do esperado
Que de amor se faz a vida
Não procede no meu caso
Invés disso, vou perdendo
A prática do raciocinar
Aos poucos me vou morrendo
Por não saber desamar

Sonho um amar humilde
Amar comum, bem comedido
Mas é moléstia e senão crime
Fantasiar um tal deslize
Do que se ufana e não permite
Que por si só se pronuncie
E mostre-se como me é lícito -
Não vassalado nem medíocre

Mas que amar deseducado
Falta-lhe garbo, é estabanado
Porquanto vai sozinho amando
Sem ter alguém agradecido
É este meu amor martírio
E a duras penas vou levando
Amor que é auto-corrosivo
E cuida de deixar-me em prantos

Sem permissão, vem me agredindo
O que tampouco escolhi
E, ainda assim, chamo de meu
Visto que com ele nasci
E assim prossegue o iníquo
Violentando meu espaço
Reprimindo-me o direito
De escolher o meu amado
SOUZA, Daniele.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Sonho-te apenas

Medo, insegurança, receio pela felicidade constada no pensar no que não devo. Surge aquele frio na barriga que logo remete a imagem do ser mais próximo a perfeição que há a mim.

Penso: "Não quero, não posso, não devo pensar." Entretanto, em mais uma sabotagem de minha mente, como em câmera lenta, em imagens seriadas de tuas mais belas expressões, vejo-te - mesmo com olhos fechados; teu cheiro sinto - inebriante demasiado; arrisco-te um beijo - e mui culpada fico.

Meu querer por ti tão intenso apresenta-se que me leva a ressignificar e reconstruir, ainda que involuntariamente, cada palavra e gesto teus de forma a figurarem declarações de amor. Balela! (Quem me dera.)

Em sonhos, és meu prometido - e isto me parece tão certo, não restam dúvidas em mim.

Algo parece nos unir, aprisionando-nos a nós. Mas a realidade nos liberta e insiste em estabelecer a platonicidade de um sentimento distante do possível mas inegavelmente comigo vivo.
SOUZA, Daniele.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Bastarda

Decidi dedicar-me a difícil e inusitada tarefa de falar de mim - sobretudo daquilo que mais envergonha-me de ser: eu.

Tenho uma vida permeada por frustrações e desilusões pessoais - não interpessoais - dadas pelas minhas escolhas devassas que me obrigam a viver uma vida à espreita, desconfiada de todos, temerosa de tudo de mim.

Gosto dos momentos que me fazem esquecer meu desplante e apreciar o que há na vida de mais simples e rico: a vivência familiar, uma tarde com amigos, rir de uma piada, cantar, olhar o horizonte... Mas com igual velocidade a que vêm essas emoções, a mim raras, aterrissam em minha mente pensamentos que me condenam como impura e indigna de ser feliz ao menos por um momento.

Acaso alguém que escolhe para si a desgraça haveria de ter direito à felicidade? Não há precisão de resposta - a infelicidade converte-me brutalmente à realidade.

Rememorando o passado e vivendo este tão hostil presente, torna-se inevitável a previsão de um futuro deplorável em que, certamente, terei todos os meus mistérios violados - até mesmo aquele que há muito tenho sepultado comigo.

Há anos, tenho minhas noites reservadas para os mais profanos atos. Desde aquele tempo em que descobri prazer pelo proibido, entreguei-me à promiscuidade e tenho, então, descoberto muitos corpos. São homens e mulheres - dos mais bem apessoados e pertencentes às melhores famílias da cidade - de todas as idades, inclusive.

Em princípio, fazia-o por mero ofício; já não mais. Dou-me ao desfrute pelo mais vil prazer. Envergonho-me por isso, mas admito, quando não sou mais uma perambulante das ruas e praças - por já nem ser classificada como senhora ou senhorita -, o que mais me excita é entregar-me a tudo quanto condena a sociedade, a Igreja, a moral e o que mais há de inibidor dos reais desejos da carne humana.

Em nota, deixo registrado para quem quer que tenha acesso a estas palavras que, embora lamente não ser quem um dia idealizei, também não hesitei e jamais hesitarei em ser como sou e o que sou. Esconderei o quanto puder a minha real identidade. Afinal, o que seria de mim se estampados fossem meus títulos de mulher-dama, meretriz? Talvez nem mais seria. Haveria de ter sido morta de um cruel modo. Certamente, atacada pelos hipócritas os quais, quando sob a luz do luar, procuram-me, pois, para canalizar seus desejos, fantasias e demônios - sem saber quem de fato estão usando para tal. Estes mesmos são os que me atirariam as pedras que me levariam a um morrer severo, por dizer o mínimo, tanto que é inenarrável.
SOUZA, Daniele.
*Primeiro texto de domínio literário Realista.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Não é bem por aí

O ritmo funk tem-se estabelecido como um tema suscitador de polêmicas abordagens, ultimamente. Aos mais conservadores, é tido como algo absurdo, baixo - um estilo musical desqualificado. Aos mais abertos a experiências inusitadas, é respeitado e aclamado o "hit" do momento.

Como tudo que impõe-se de modo muito enérgico - caso do funk - este abre caminho a duas vertentes: arrebata seguidores ou cria aqueles que por ele têm total aversão. Ao meu ver, um dos motivos dessas tão distantes posturas ante ao assunto é o fato de o real propósito do tal estilo ter se perdido com o tempo e sob influências diversas.

Em princípio, o funk representava uma forma de protesto das camadas sociais menos favorecidas. Hoje, ele esboça uma alternativa de expressão tipicamente anárquica, uma espécie de bandeira às revoltas, mas erguida de forma errada e para causas erradas. Ao invés de firmar-se como símbolo de discussão social e cobrança de direitos, expôs-se de modo tão agressivo que terminou por criar universos igualmente significativos e populosos: os admiradores/consumidores de funk e os que simplesmente não o toleram.

Não entrando no mérito do ritmo, penso que a melhor estratégia de afirmação social do funk seria uma total reformulação em suas letras. Porque jamais será aceito como consumível pela maioria algo que faça apologia ao sexo, violência, criminalidade, drogas, desrespeito à mulher, banalização da vida e outros.

É preciso estar muito fundamentado nos porquês de uma causa para conquistar o respeito daqueles que se ambiociona ter futuramente como público.
SOUZA, Daniele.

Amazônia, "berço" da vida

À medida em que o homem foi escrevendo sua História no Brasil, vários aspectos de sua vida mudaram, consideravelmente. Assim, aconteceu com seus problemas e preocupações. Antes, a escravidão desmedida e e desumana. Depois, a ditadura incisiva, inflexível. Hoje, aquilo que mais lhe aflinge está ligado à natureza, ou melhor, à ruína a que estamos condicionando-a.

Somos privilegiados por possuir o "pulmão" do mundo em nossas terras - a Amazônia, uma belíssima obra de arte, prova de que Deus existe. Ela é "berço" da maior biodiversidade da Terra, acolhendo as mais belas formas da fauna e da flora. Entretanto, seres humanos, com atitudes nada racionais, têm feito a este patrimônio uma mal talvez irreparável. Matou-se boa parte dos animais que tinham-na como seu habitat e está-se, gradativamente, desmatando todo o verde que ainda resta e tanta importância tem para o todo.

Como, pois, solucionar este entrave? Uma alternativa viável seria o aumento da fiscalização, bem como aplicação de multas àqueles que promovessem desmatamentos não autorizados. Coibindo, assim, práticas criminosas de indivíduos ignorantes ou omissos quanto à questão do prejuízo que causam a tantos seres.

Contudo, há de se convir que nada envolvendo o ser humano resolve-se de modo tão simples e pacífico. Existem questões sobre essa possível forma de solução muito complexas mas, no entanto, bem previsíveis. Pois é certo que, no processo de fiscalização e aplicação de multas aos infratores, haja corrupção, suborno e toda sorte de negociação ilícita, aumentando ainda mais a gravidade da situação - porquanto se violência gera violência, corrupção também gera corrupção e, assim, dá-se uma cadeia de irregularidades absurdas. Tudo isso conota o egocentrismo e, paralelamente, a estupidez humana perante tal assunto.

É bem verdade que ações limitadas não poderão mudar o caminho para o qual está sendo conduzida a Amazônia: à destruição. Deve-se ter ciência de que somente com uma conscientização conjunta e, consequentemente, uma ação coletiva é possível reverter, ao menos em parte, os males pelos homens causados e a eles convertidos em forma de uma redução na qualidade e vida e, quiçá, se nada for feito para mudar, em uma extinção da vida, futuramente.
SOUZA, Daniele.
*Dissertação que me garantiu aprovação no ENEM 2009.

"Todos pela Educação"

O "Todos pela Educação" é mais uma das inúmeras frases de efeito utilizadas pelo Estado para "maquiar" a verdade. Afinal, todos pela educação envolve um considerável número de pessoas com objetivos afins que deveriam trabalhar em unidade: governo, escola, família, educadores, alunado e comunidade. Essa interação é precisa mas, ao que consta, passa longe da realidade.

Se o objetivo de todos fosse formar cidadãos ativos e, por conseguinte, um país digno, as ações dessa totalidade seriam completamente invertidas. No entanto, não é interessante para os superiores da pirâmide econômica que a educação seja, de fato, educada e que transforme seus discípulos. Isto implicaria uma série de alterações começadas pela base e propagadas até seu topo. Com isso, certamente seríamos representados por outro símbolo geométrico. Quem sabe uma esfera, remontando uma visão global e mais uniforme.
SOUZA, Daniele.

Grave: greve, guerra!

Injustiça, impunidade.
Descontentamento, balbúrdia.
Gritos, protesto.
Indiferença, apatia.
Faixas, tinta na cara.
Intolerância, resistência.
O quê? Greve, guerra!
Salário! Reajuste! Direitos!
Quem? Governador? Prefeito?
Ninguém.
Vozes!? - caladas.
Faixas!? - rasgadas.
Salários!? - defasados.
Dignidades!? - violadas.
Na praça, vestígios.
Nos corpos, marcas.
Nas mentes, um sonho,
Uma lembrança frustrada.

SOUZA, Daniele.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Gestação do colapso social

Cenário: Nova Iguaçu; acontecimento: professores do primeiro segmento do Ensino Fundamental que fazem a chamada "dobra" recebem por esta apenas a metade do que deveriam. Trocando em miúdos, cidadãos trabalham dobrado - às vezes, mais do que isso - e não tem aquilo que lhes é de direito: o salário equivalente à tarefa a que se dedicam.

Fosse há um tempo atrás, em que a tolerância ao descaso social era menor, esta manchete - que poderia ser de qualquer jornal da Baixada ou, até mesmo, do Brasil - teria respostas nada agradáveis aos seus causadores. Nela, observo um episódio que, de tão comum, tornou-se, ao ver de muitos, banal. É importante, contudo, que, principalmente esses, atentem para o fato de que a lesão aos educadores causadas não limita-se à relação de profissionais da categoria, mas, com propriedade, extende-se atingindo a clientela por eles atendidos: pais e alunos, família, base social.

Uma teoria científica que há muito convencionou-se usar como ditado popular - por sinal, muito pertinente - afirma: Toda ação sofre uma reação. (Com algumas adaptações aqui ou acolá, mas em suma, é isso.) Pensando nisso, gostaria que voltássemos nossos dotes de cidadãos para avaliar a situação que aqui se expõe sob uma perspectiva ampla e global - coisa que em nossa agitada vida não nos prestamos a fazer. É notório que o dado apresentado tem como tema a educação. E, para melhor entendermos o mesmo, primeiramente, abordaremos sobre suas causas - que, por um acaso, são justamente onde se pode buscar hipotéticas soluções, propostas - e, enfim, as consequências de uma educação decadente - que já estamos saturados em espectar e, ainda mais, de protagonizar. Acompanhar esse raciocínio é o mesmo que pensar: "Que ações estão provocando tais reações no âmbito educacional?" E eis que, sem levar o pensamento muito ao longe, é possível encontrar algumas respostas coerentes.

Na estrutura do problema encontra-se o governo - não um governo qualquer, mas uma sucessão deles - que, desde sempre, tem "maquiada" a sua real função: alienar a massa. Dito de outra forma, seu propósito maior, ao contrário do que é propagado nos veículos de comunicação através de mensagens já pouco convincentes, não é de formar cidadãos, nem tampouco conceder a alguém condições dignas de vida, mas criar "máquinas" reprodutoras de uma realidade mesquinha que cada vez mais o fortalece e solidifica.

Em direção contrária a essa postura governamental estão os professores. Mas estes, infelizmente, são tão limitados quanto a maioria de nós. Enfrentam, diariamente, além de seus desajustes pessoais, a falta de subsídios para realização de um trabalho com maior eficácia; má remuneração - o que lhes confere a necessidade de trabalhar em vários turnos, comprometendo, certamente, a saúde; desestrutura física e psíquica do profissional que, como se não bastasse tudo o que tem de enfrentar, é desvalorizado; e outros.
O aluno, por sua vez, é receptor da deficiência do governo e do professor; é vítima de um ensino que, falando abertamente, a ele não faz sentido algum; é condicionado a um baixo rendimento escolar devido a agravantes como má alimentação; e, assim, é quase forçado a procurar meios que lhe deem um retorno mais rápido e consistente que a escola, segundo suas exigências e necessidades, como o trabalho - tendo como principal oferta a ilegalidade, a criminalidade.

Com um panorama superficial do sistema em que vivemos, chegamos a uma de suas numerosas consequências: a exclusão social daquele que não cumpre as exigências civis. Daí extraímos mais uns "derivados tortos" dessa exclusão: o não engajamento desse excluído em momento algum no mercado de trabalho e na sociedade, a total marginalização - uma espécie de "empurrão" para a prática da violência. Que, evidentemente, converte esse triste retrato inflexível da sociedade em retornos gravíssimos.

O interessante é ver o mesmo poder que molda bandidos, puni-los por uma realidade caótica estabelecida a que, pode-se dizer, fomos todos conduzidos. Mas, como brasileiros que somos - quer queira, quer não queira -, não devemos perder as esperanças! Para reparar ou recuperar toda uma história de sofrimento e dor a que uma vida foi sujeita, ironicamente, são utilizados investimentos maciços em extermínio dos mesmos e/ou amontoamento dos delinquentes em prisões indignas de abrigar animais - o que diremos de seres que, ao que me consta, são humanos.

Há milhões de Marias, Franciscas, Joãos e Josés - todos da Silva - espalhados por aí, os quais não tiveram ao menos a chance de tentar lutar por seus direitos, reafirmar sua dignidade, ou mesmo conquistá-la. Uns, por nunca tê-los querido. Outros, talvez, pelo fato de não os terem apresentado tal possibilidade.

Se algum dia o contrário acontecesse, tenho em mim que, então, conheceríamos algumas soluções para as impunidades que de nós tira a humanidade. Resgataria, quem sabe, um pouco daquele orgulho que sentia quando criança ao ver hastiada a bandeira - orgulho, hoje, literalmente sem eira, nem beira, sem paredes, teto ou chão; daquele patriotismo ufano, esquecido e empoeirado nos livros de velhos guerreiros, saudosos do passado, envergonhados do presente e desesperançosos quanto ao futuro que esperam não conhecer.

Permito-me, nas últimas palavras, ressaltar que não me surpreenderia saber que estas, se ouvidas ou lidas, podem despertar sonhos e desejos revolucionários, acordar corações amantes da vida - ansiosos por honra, ordem e progresso -, arrancar sorrisos vazios, lágrimas profundas e pensamentos duradouros - guardados, neste momento, como que para sempre - mas que logo, serão vagos e, então, faltos. Essa não surpresa existe pelo conhecimento das primeiras emoções, fruto da vida e da vontade que, felizmente, ainda arde e bate dentro do peito; conhecimento também da fatalidade que se segue com o abandono dos primeiros pensamentos, vinda do ciclo vicioso em que insistem nos converter. (Ciclo esse onde vivemos, vivemos... e mal sentimos. Que, de forma inexplicável, rouba-nos a sensibilidade e tudo que ainda teimo eu acreditar ser inato ao homem.)
SOUZA, Daniele.
*Crônica publicada no Jornal ComCausa em setembro de 2009.

Abortei-te, amor

Por não haver discórdia entre nós
Por faltar-nos a agressividade
Por não haver uma lágrima no chão
Por nem mais me dar ao luxo da vaidade

Por não saber se inda te aprecio
Por falta de assunto e devaneios
Por seres indiferente ao meu grito
Por já desconheceres o meu cheiro

Por não achar beleza no teu riso
Por não parar o tempo quando o vejo
Por não querer te ter quando preciso
Por não fazer mais falta teu desejo

Devolvo-te o peso que vai tarde
E com alívio, aproveito o ensejo
Que é para ti a culpa desse amor
Que a mim foi como um pesadelo
SOUZA, Daniele.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Roupagem diferente

Há de ser forte
No dia da angústia
Há de ser manso
Em tempos de guerrilha
Há de equilibrar
Quando em descompasso
Há de elevar
Se em meio a vale
Há de esperar
Mesmo em anseio
Há de segredar
Quando vontade é grito
Há de iluminar
Em meio a trevas
Há de ser estranho
Entre a maioria
Há de ser salgado
E atribuir sabor
Há de ser diferente
E parecer mentira
Há de ser discípulo
E aprender co'o mestre
Há de ser humano
E figurar divino
SOUZA, Daniele.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Um bastardo eu

Sou base
E, embora não pareça,
Nem tão firme
E quando num vacilo,
De tão frágil
Se comigo estou,
Derreto-me
Ao fechar dos olhos da cidade

E de minha sombra
Escondo-me;
E dos murmúrios da brisa
Afasto-me;
E, em soluços, na vergonha fico

Como que para livrar-me
Da ameaça que é
Ter em mim uma fragilidade
Que remonte
A insuficiência de ser base
Provando o que não sou capaz:
Ser forte

SOUZA, Daniele.

sábado, 22 de agosto de 2009

Casulo

Quero fugir,
Escoder-me dentro em mim
Isolar-me da realidade
Que insiste em me perseguir
Não te tenho mais aqui,
Perto de mim,
Pronto a me fazer feliz
Não te vejo mais,
Não te ouço mais,
Não te vivo mais
Mas que falta que faz
SOUZA, Daniele.

Regras, regras...

Ter é desprezível; estar é efêmero; ser é sublime, pleno, magistral. O mundo está saturado de regras. Seja, pois, tu exceção.
SOUZA, Daniele.

sábado, 15 de agosto de 2009

Insuportável eu

Um homem não sobrevive só. Não pela solidão em si. Mas por não suportar, por muito mais de um instante, conviver com o terrível que há dentro de seu próprio eu.
SOUZA, Daniele.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Covardia

Quão vulnerável sou. A solidão era o que mais buscava; o que a mim fascinava; descanso e repouso de mais inspiração. (Sim, isso eu pensava.)

Eis que a ela estou entregue. E já há mudanças no meu corpo, alma e... mente. Coração arredio e afugentado; movimentos repetitivos, como que insanos; e uma falta de tudo; um... um excesso do nada.

Depois de um tempo, o que se quer não é companhia, mas serrar os olhos e mergulhar num abismo - que agora minha mente associa ao que chamam de sono - tão profundo e intenso, a ponto de não mais ser possível repontar.
SOUZA, Daniele.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Latência evidente

Tenho saudade de minha voz, presa dentro em mim. Tão longe que não posso provar. Tão minha que não há como desmentir. Atormenta-me, ecoando em meu ser. Atrofia, ainda, um de meus sentidos. Haja visto que acovardou-se e de minha garganta já não quer se libertar.

Um grito... isto é tudo de que preciso!
SOUZA, Daniele.

sábado, 8 de agosto de 2009

Um lugar chamado aqui

Faz um tempo que acordei e descobri
Que o mundo não tem cor
E está mesmo por um triz

Bate saudade daquele tempo de criança
Eu respirava uma mentira,
Engolia uma desculpa que bastava, que valia

Passado um tempo, o real foi ostentado
Sangue, pois, foi exalado
Com sabor de impunidade

Descobri uma nauseante verdade
Que o todo o é em fragmentos
E já inspira piedade


SOUZA, Daniele.

Verdade de um sonho pesaroso

Hoje acordei com um enorme vazio
Hoje acordei com vontade de poder...
Hoje acordei com vontade de ser filha
Hoje acordei querendo pai ter

Hoje sonhei que estava contigo
Hoje sonhei que de ti precisei
Hoje sonhei que estavas por perto
Hoje sonhei que envolvido o abraçei

Depois o senhor sumiu de mim
Depois um animal feroz me veio
Depois me bateu aquele medo
Depois gritei: Meu pai, aqui!

Daí esperei tua prontidão
Daí o senhor me demorou
Daí esperei mais um bocado
Daí o encanto se findou

Deu vontade de desviver
Deu vontade de libertar um grito
Deu vontade de derreter em lágrimas
Deu vontade de saber por quê

E o que fiz foi tentar não fazer alarde
E o que fiz foi calar, e gritar grafias
E o que fiz foi chorar, por dentro, uma lágrima seca
E o que fiz foi ter a dúvida: se sonho ou verdade

A verdade...
É que hoje acordei
Pensei na mente que sonhei o que vivi
Depois, lembrei das verdades que ali senti
Daí deu vontade de desabafar com o papel
E o que fiz foi confidenciar a ele
Que queria voltar pro sonho
Ou acordar logo da verdade

Avisei que tinha pressa
Que eu guardava um tal abraço
Que tinha endereço e hora certa
Pertencia ao meu pai
A quem fiz esta promessa


SOUZA, Daniele.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Dependência vital

De tantos desamores, tantas dores. Não sei onde posso parar
Tantos dessabores que a mim arrebatam. Creio não saber me controlar
Ruínas me mastigam, me afogo em lágrimas. E ainda espero te beijar
Encarcerado por minha emoção, crio a deusa que temo jamais alcançar
Ainda assim, penso e digo: Amor, faça-me feliz pelo fato de apenas existir
Me debato, crio coragem e então peço: Oh, vem viver para mim!
Como tanto quis, um dia, enfim, eu sei, vou te ter aqui
Tal qual tesouro no recôndito velado, feito sutil e escasso rubi
De fato, em mim vivo para ti
Me perguntas e eu ouso responder que a você dou a vida
Pois que, a mim, prefiro a dor de um trágico morrer
Que conviver com o mais cruel legado de existir e não poder te ter
CARLOS, Bruno; SOUZA, Daniele.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Reafirmação humana

Em uma análise da conjuntura política e civil brasileira pode-se, sem grande esforço, perceber situações adornadas por crises crônicas instaladas em diversas, se não todas, as dimensões da sociedade. E esta deficiência que se propaga encontra, ironicamente, no mesmo ser, seu agente desencadeador e sua própria vítima: o homem - que internaliza esse quadro como algo já pré-estabelecido, do qual é condicionado a protagonizar.

Para que essa postura assumida por toda uma sociedade seja consolidada, é necessário haver um contexto geral que a possibilite. E é exatamente com esse propósito que, em cada medida de extensão territorial do Brasil, estende-se um desmazelo político - por parte dos representantes da grande massa - que assusta e, por vezes, intimida. Sabe-se ainda que essa estrutura governamental existe de modo tão "engessado", ao ponto de sua dissolução apresentar-se no imaginário popular como um fato de caráter deveras utópico.

Toda e qualquer mudança almejada deve ter como ponto determinante o próprio ser humano. Partindo dessa premissa, contrói-se o parecer que indica estarem na parte interessada as soluções para uma conquista. Em outras palavras, as alterações desejadas precisam ter como ponto de partida o povo. Deve-se agir na base da sociedade, em sua formação: a educação. Essa mesma, que tão subestimada tem sido , é dotada de todos os instrumentos que viabilizam o processo de emancipação do indivíduo diante da opressão social, a que, cotidianamente, se vê deparado.

Dado esse momento de conscientização do dever do ser na construção de uma perspectiva diferente do que, há muito, lhe é imposta, é preciso por em prática o que, de antemão, fora acordado. Assumido o posicionamento, é preciso um árduo, vagaroso, incessante e progressivo trabalho nas "raízes" da educação, a fim de se alcançar a reestruturação social; tendo em vista que a essência dessa nova filosofia educacional - e, por que não, de vida - é a disseminação de um ensino gerador de cidadãos críticos, ativos, construtores de uma nova História nacional.

Como consequência de um modelo de educação libertadora - tal como idealizou o mestre Paulo Freire - tem-se contemplados energicamente empasses sociais - já amenizados devido ao novo caráter educacional assumido - como: violência, desemprego, fome, alienação política, desestrutura emocional e familiar, enfim, todos os maiores desafios e empasses a que o homem historicamente esteve subordinado, submetendo-se a condições de vida indignas e negando aquilo que o torna singular perante todo o universo - sua própria denominação: humano. E é nesse cenário de satisfação de suas aspirações que ele saberá ter encontrado aquilo que tanto ansiara e jamais houvera experimentado; a, antes, inatingível e, já tão sua, tão íntima: felicidade.

SOUZA, Daniele.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Mundo decadente

Pensando vivo, e, em razão disso, o que tenho é vergonha. Envergonho-me da geração atual que povoa o mundo e por fazer parte dela. Por estar incluída num grande corpo - a que denomino, aqui, juventude - que não tem mobilidade, vontade, ação. Uma juventude expectadora da vida, passiva e, por hora, inanimada.

Lá fora o mundo gira. O mundo é braço, o mundo é perna, é cabeça, é o conjunto. Mas, afinal, a que se aprisiona o corpo, para que tão atrofiado venha ser? Aprisiona-se a uma filosofia de vida particular, algo de caráter rijo e engessado. Dele, vê-se a banda passar, a crise estourar, a guerra desencadear, a África morrer, a educação falir, a política se vender, o ambiente perecer. E o corpo... O corpo é cego, é surdo, mudo, estático para o que há com real importância.

Diante de tais colocações, devo afirmar que não sou a juventude, definitivamente. De antemão, declaro que sou estrangeira numa juventude que não atravessou um portador de deficiência visual na rua; não deu lugar a um senhor ou gestante para sentar; não plantou uma árvore; não doou um alimento; não pintou sua cara, nem saiu às ruas; não perdeu seus sentidos, família, amores e amigos por uma causa nobre; não suplicou justiça; antes, inspirou piedade - não por ser vítima, mas hostil, covarde.

E o que faz essa massa hemiplégica enquanto a vida passa num galope constante e cadência acelerada? Descreverei, pois, o modo de vida terrivelmente previsível e nauseante levado pela dita juventude. Seu ambiente é festa, baile, morro, esquina, mundo. Vive de dançar, beber, tragar, cair, levantar, procriar... (Sim, procriar. Povoar a Terra de vítimas da indignidade, do desprezo, mesquinhez, desamparo, fome e sede - de alimento e mais, de afeição.) O que se tem? Desejo, vontade, impulso, extinto - típico de irracionais. E o que se faz? Faz-se filho, faz-se ignorância, faz-se arrogância, faz-se ruina, faz-se perpetuar uma classe de seres humanos cada vez mais dotada de traços essencialmente animalescos.

Nesses passos, procura-se nas curvaturas da vida e naquilo que compõe a esfera material, algo que complete o ser e o alimente naquilo que é mais escasso e necessitado - algo abundante no campo em que se é ignorante: o espiritual. Campo que rege a Terra, seus habitantes, suas ações. Mas ainda desconhecido, que não se sabe buscar entender, nem tampouco conhecer.

Para cessar a fome de uma alma em gritos, manifesta-se, pois, a carne, alimentando-se de mediocridade e leviandade, dando às indagações e carências mais profundas, soluções grosseiras e hipocritamente convincentes.

Como estrangeira, valho-me de uma interação com o mundo. Não abandonando, contudo, a preocupação de estar impermeabilizada durante este processo. Sigo em uma caminhada solitária, com ações isoladas, tentando impor-me e mostrar que sou diferente dessa realidade que tornou-se mais do que comum, mas normal, de tanto que é banal.

Aprendi que, neste mundo, não se pode ser substância pura. Há de se escolher ser, então, uma das bifurcações de mistura. Escolhi, para tanto, das misturas ser a heterogênea. Mesmo sendo esta a escolha mais criteriosa e enérgica. O que a diferencia da outra é que, em longo prazo - sendo eu heterogênea, diante dessa perspectiva de mundo contemporânea - construirei uma história totalmente perpendicular a que a maioria, homogênea, está condicionada a pertencer. (Não sendo os homogêneos autores de sua própria sina, mas receptores de um legado que lhes foi imposto desde que tornaram-se alienados, insensíveis e inconscientes - tento eu, ainda, resistir a ideia de que isso possa ter ocorrido no exato instante em que nasceram, ou mesmo, quando tiveram ciência de que existiam.)
SOUZA, Daniele.